quarta-feira, 25 de maio de 2011

As linhas de Deus

Já dizia o ditado: "Deus escreve certo por linhas tortas", mas tortas por qual ponto de vista? Até onde vai o tal livre arbítrio uma vez que acreditamos em um destino... Hoje eu assisti Agentes do Destino, e recomendo! É um filme lindo que, basicamente, fala de Deus e das escolhas que fazemos na vida, e leva a uma reflexão bem profunda sobre termos um caminho previamente traçado pelo pessoal lá de cima.

Aprendi, desde muito nova, a acreditar em destino, simplesmente porque a história da minha família é permeada de coincidências absurdas, intuições e visões que se concretizaram 'do jeitinho que foi previsto', como se a história já estivesse prontinha em algum outro plano só esperando pra ser vivida. Sendo assim minha identificação com o filme foi total. Mas mesmo quem desconfia das questões do destino deve se perguntar, eventualmente, porque alguns momentos são inexplicáveis...

Sabe quando você abraça uma pessoa e parece que se funde com ela, como se fosse uma coisa só? E quando você mal conhece alguém e simplesmente sabe o que fazer pra agradar, porque de alguma forma você já a conhece? Sem contar o tal sentimento de pertencimento que o filme cita, essa coisa de você ter a impressão de que o destino fica colocando uma pessoa no seu caminho toda hora, como se vocês fizessem parte de um mesmo plano... quem nunca sentiu isso que atire a primeira pedra!

Pra mim é certo que Deus tem um plano especial pra todos nós, e que de vez em quando vem um anjinho e coloca a gente na linha, ou coloca a gente a prova dependendo do caso... O difícil é saber quando é uma coisa e quando é outra: quando as coisas acontecem pra nos mostrar uma verdade e nos recolocar no eixo, e quando elas acontecem como uma prova pra testar até onde vai nossa fé, qual é o nosso limite frente aos nossos sonhos, qual a raiz dos nossos valores.

Desde semana passada eu fui obrigada a reavaliar algumas premissas, e estou meio bagunçada... E o que desencadeou essa série de revoluções interiores foi um momento que, por mais louco que isso soe, parecia que já tinha acontecido, de tão natural que foi.

Esse talvez seja o instante em que percebemos que talvez esteja mesmo escrito, quando uma coisa absolutamente descabida acontece, e a sensação é de que era exatamente a coisa mais perfeita que podia acontecer naquele momento. E o mais curioso é que, a despeito de todos os planos de reação que elaboramos diariamente (mesmo que de forma subconsciente) para as mais diversas situações, nessa hora nem é preciso pensar, é instintivo. Simplesmente é a coisa certa, sem mais.

O grande desafio é tentar entender esse plano maior ao qual estamos submetidos, porque isso nos toma muito tempo e energia - que poderíamos usar para sermos simplesmente felizes. Talvez o cerne da questão seja aprendermos a deixar a vida acontecer, e encontrar nossa forma unica e especial de entrar em contato com o cara lá de cima pra perguntar: e agora, o que eu faço? Mas é difícil deixar Deus tomar conta de tudo sem interferir...

Você acredita em coincidência, em acaso, em eventualidade? Cada ação tem uma reação, fato, mas e as reações sem aparente causa motivadora? Cada lugar que você esteve te trouxe algo novo, cada pessoa que conheceu te deu uma sensação diferente, cada ato teve um desdobramento, cada sentimento te levou a um caminho. Será mesmo que conhecer aquela pessoa ou tomar aquela atitude foram situações soltas, sem propósito definido, meras casualidades? Ou será que você estava na hora certa e no lugar certo exatamente para que aquilo acontecesse? Acho a segunda opção mais aceitável, estamos sempre na hora certa e no lugar exato...

De qualquer forma, todo mundo que acredita em Deus deveria assistir esse filme, independente de religião e outros detalhes - para reorganizar mentalmente suas convicções acerca das tais coincidências da vida, ou acerca de como devemos lidar com o plano traçado para nós.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Lembranças

Possivelmente as memórias emotivas são as lembranças mais profundas que temos. É como escrever nomes numa árvore, quanto mais fundo entra o canivete, mais intrínseco fica o desejo. Suponho que Deus nos deu o dom de lembrar para que possamos carregar pedaços de mundo em nós, e assim irmos nos tornando, aos pouquinhos, mais próximos do céu.

A potência das lembranças é infinita, ultrapassa nosso poder de consciência. Tem dias, como hoje, que me recordo de algo vagamente, por um cheiro ou um gosto, e de repente o mundo ganha outros ares, mesmo que a lembrança propriamente dita esteja perdida lá, nos idos do meu pensamento. Nessas horas a alma voa livre, despretensiosa, pra uma felicidade que você guardou tão bem guardada que não acha a gaveta, mas que é sua, se tornou parte de você como um fio de cabelo.

Quem nunca sentiu o cheiro da chuva e lembrou de uma tempestade que te fez ver o mundo mais bonito quando terminou? Quem ao sentir um cheiro de flor de campo não lembrou do quintal da avó? Quem ao ver um casal de namorados não lembrou de seus romances? Quem não tem lembranças perdeu uma parte de si mesmo...

Há quem reclame da saudade, mas ela é como uma força motriz, impulsionando reencontros e redescobertas. Cada momento passado ao lado de alguém que se ama é uma descoberta, e, quando o tempo te separa desse alguém, a saudade é a máquina fascinante que te leva de volta àquele momento, que ficou gravado para todo o sempre na caixa de música da vida. E, de tão apaixonada que é, ela ainda sussurra no seu ouvido: vá lá, surpreenda, reencontre, redescubra, viva.

Um sorriso, um piscar de olhos, um pedido de cuidado e outro de casamento, uma flor, uma cor, uma canção. Um suco de abacaxi, um livro marcado, um fecho de brinco perdido, uma foto que amarelou. Um conto, um canto, seu canto. Um movimento, uma clave de sol, uma cicatriz no tornozelo, um laço de fita amarela. E até aquele que pensou saber de tudo se rende à um mundo que, de tão seu, se tornou inatingível pela razão.