quarta-feira, 13 de julho de 2011

Eu não sei o que eu quero, e daí?

De vez em quando alguém me diz, com aquela cara de quem descobriu a pólvora, que eu não sei o que eu quero. E parece que essa grande constatação que meus amigos têm, vez por outra, é a resposta para todos os meus problemas: se eu realmente soubesse o que eu quero tudo seria diferente...

Me olho no espelho todo dia e vejo algo diferente quando acordo. Já tive o cabelo curto e comprido, e já passei horas a fio tentando cachear e outras tantas prendendo-os em coques impecáveis. Pois é, eu mudo de ideia, e como posso fazer isso, mudo sempre que desejo!

Tem dias que eu acordo Grace Kelly, e tem dias que eu acordo Madonna. Nos meus armários coabitam calças rasgadas estilo rock and roll e tailleurs de deixar Chanel orgulhosa. Meu estilo é versátil, combina com meu sorriso e com meu humor! Aproveito diariamente o meu direito de mudar e orno meu exterior com meu interior, como eu bem entendo.

Meus esmaltes já foram pretos, brancos e azuis. Deixei os vermelhos de lado por um pedido de alguém muito especial, e quer saber, me senti bem com isso! As vezes eu deixo de fazer algumas coisas pelas pessoas que eu amo, e eu não me importo. Talvez seja sinal de que eu não saiba o que eu quero, talvez seja sinal de que eu sei a quem quero bem.

Minhas cores são sempre minhas, mas mudam todo dia. Gosto muito dos tons de rosa, dizem que é minha cor, mas tem dias que eles me cansam e preciso de algo mais visceral. O branco e o preto me atraem pelo contraste, eu gosto de opostos. O azul também pode ser tão inspirador... Ah, eu não sei o que eu quero, então experimento tudo, e sinto um prazer indescritível em provar todas as cores do mundo!

Já namorei bastante, já conheci muita gente, já mudei de opinião sobre o que eu queria e sobre as pessoas - e sobrevivi! Já tive grandes paixões e grandes amores, e hoje eu sei diferenciar uma coisa da outra, graças a não saber assim, tão ao certo, o que eu queria, e ter me dado a oportunidade de tentar algo diferente. Também já achei que ia morrer de amor e já reconsiderei, pensando no desperdício que seria. É tão bom não ter que estar sempre certa e poder querer algo novo e mais inexplicável todos os dias...

Quis ser professora, publicitária, caixa de supermercado, presidente da república. Nunca quis ser médica, posso dizer pelo menos que sei o que eu não quero! Por hora sou pedagoga, jornalista, bailarina, mas posso ser ainda outras, são tantas possibilidades que nem eu sei o que eu posso querer amanhã... e aprendi que é o primeiro passo de poder, sempre.

Talvez ninguém saiba assim, tão bem, o que quer. E mesmo que saiba, isso não significa que não possa mudar de ideia. Poder mudar todos os dias de opinião é um presente que a vida nos dá, e só aproveita quem é inteligente o suficiente para perceber.

O mundo não chegou aonde está porque todos andaram sempre no mesmo caminho. Se hoje temos tantas possibilidades de escolha é porque muitos outros mudaram de opinião, ousaram e arriscaram fazer tudo diferente, do seu jeito. E por que? Ah, porque eles queriam, ou porque talvez não soubessem tão bem assim o que queriam!

Com sua licença, mas ainda bem que eu não sei o que eu quero! Assim posso decidir, todos os dias, o que me faz mais feliz nos instantes que vão ser, de novo e de novo, os primeiros momentos do resto da minha vida.