quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Alguns dias


Já dizia o grande Chico Buarque na letra de Roda Viva: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu". Eu hoje estou me sentindo um pouco como quem partiu, ou melhor, me sinto como se uma partezinha de mim tivesse partido.

Duas pessoas que eu amo, um casal de afilhados adorável, viajou hoje pra outro país, e pra uma nova vida. É claro que estou muito orgulhosa e torcendo por eles com todo coração, mas uma partezinha de mim está triste de doer, da falta que já estou sentindo de ter os dois por perto...

Talvez haja um certo egoísmo nisso... O fato de ver quem amamos partindo em busca de um grande sonho devia ser motivo de contentamento, de gargalhadas, e não de lágrimas... mas nessas horas o eu pesa, e pensar que essa pessoa não estará ao nosso em muitos momentos é dolorido.

E somos todos assim, não tem o melhor ou o pior. A partir do momento que somos cativados por alguém já sentimos como se fosse parte nossa, e ninguém sai por ai deixando seus pedacinhos pelos cantos... O papo da eterna responsabilidade por quem se cativa é uma das maiores verdades que eu já li, mas Saint-Exupery foi tão esperto que escondeu o sábio ensinamento entre as palavrinhas de um livro quase infantil, com aquarelas, que só aqueles que vêem com o coração são capazes de entender...

Pelo menos lavei a alma, e disse tudo que tinha a dizer pra eles... ou talvez não tenha dito nada do que deveria dizer a eles... mas creio que o essencial eu consegui demonstrar, a falta que farão por aqui e como a distância não pode realmente nos separar de nossos queridos. As despedidas são sempre peculiares, se diz muita coisa sem sentido, e também as coisas com todo sentido do mundo, que parecem nunca ter tido momento tão adequado para ser ditas! E ai de quem não as diz, fica com o arrependimento enroscado na garganta...

É isso... saudade é o sentimento que move o mundo, seja a saudade de alguém ou de algo, ou daquelas coisas que você nunca experimentou e nem sabe como pode ter saudade - mas tem! É pela saudade que muitas vezes evoluímos, que buscamos ser melhores, que buscamos soluções para as distâncias, para os problemas, para os amores sem-solução. Não é a toa que a palavra só existe em português, não é todo mundo que consegue sentir de forma tão complexa e ainda dar nome pra isso...

Enfim, já estou com saudades queridos... toda a felicidade do mundo pra vocês! O resto é blablabla de madrinha chorona... :o)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dia dos pais


Este fim de semana foi o dia dos pais. Ok, é uma data comercial, apelativa e blablabla, mas não deixa de ser um bom momento pra estarmos com pais, avôs, tios e familiares queridos que nos auxiliaram no contrução de quem somos...

Eu sempre fui uma fiel adepta do dia dos pais, com direito a presente, festinha, surpresa e tudo mais, mas infelizmente este dia dos pais foi o primeiro sem meu pai. Como não tenho mais nenhum avô também o que me restou foi um enorme frozen no América pra passar o tempo!

E o dia dos pais tem toda uma preparação anterior, dias e dias em que a mídia descarrega mensagens emotivas sobre os consumidores, e eu já vim sofrendo por antecedência... nunca tinha percebido como essas datas comemorativas podem ser complicadas para quem não tem com quem comemorar... quando chegou na véspera eu já estava psicologicamente preparada pra passar o domingo todo chorando.

Mas nada disso aconteceu. O meu dia dos pais foi vazio, um dia meio triste, mas foi só isso. De repente percebi que lembrar do meu pai não era algo que me fazia mal. Lembrei de muitos dias dos pais que passei com ele, em muitos lugares, e em tantos presentes... até no último, ano passado, quando ele estava na UTI e eu apareci no hospital com uma televisão portátil, pra ele assistir a novela - meu pai morrreu algumas semanas depois do dia dos pais, numa quarta-feira ensolarada de setembro.

E lembrei também de todas as viagens que fiz com ele mundo afora, de todas as aventuras que embrenhamos e deixavam minha mãe doente, de quando comecei a trabalhar e ele foi um chefe tirano mas me ensinou a dirigir uma escola como ninguém, de quando eu entrei pra faculdade de pedagogia mesmo ele querendo que eu fizesse alguma outra coisa que me fizesse crescer na vida, tipo direito, e de como ele chorou na minha colação de grau, e disse que eu estava certa, e que se eu tivesse escolhido outro caminho a educação não seria a mesma...

Sempre fui a princesinha do meu pai, ele sempre me protegeu do mundo e me ensinou a me defender dele também, e é lógico que vou sempre sentir sua falta, mas esse domingo percebi que isso não é ruim. Ele me colocou no ballet, na aula de línguas, nas lições de piano, e tudo para eu ser a mais delicada e meiga das meninas... e acabou não sendo bem assim, mas eu sei que mesmo eu não tendo sido exatamente como ele imaginava que eu seria ele se orgulhou muito de mim, e até preferiu o resultado de sua cria.

Quando eu nasci meu pai já tinha cinquenta anos, e quando eu tinha seis ele foi internado com um problema grave e ficou entre a vida e a morte. Se recuperou completamente, superando todas as expectativas, mas sempre pairou sobre a minha cabeça o fantasminha do meu pai não estar lá. Outros problemas menores de saúde se seguiram, mas todos foram sendo superados. A idade e a vida que meu pai levou não ajudavam - filho de imigrantes da segunda guerra, construiu seu império do nada trabalhando como louco, numa época em que saúde e prevenção não eram o top 5. Com dezenove anos ele foi internado às pressas com um AVC, que acabou não tendo sequelas, mas meu primeiro "passeio" dirigindo com carta de motorista foi pro Hospital Samaritano, correndo, pra ver meu pai e o que tinha acontecido... aliás, nesses últimos anos me tornei praticamente hour concours do Samaritano, sou voluntária de lá inclusive, porque aprendi a gostar de um hospital, afinal era lá que as coisas acabavam ficando bem. Só por ai dá pra entender quantas foram as idas e vindas da minha família a hospitais, médicos e clínicas, mas meu pai sempre teve uma vontade tão grande de viver que parecia que nenhuma enfermidade ou idade o venceria... até que chegou sua hora.

Não é fácil crescer sem saber se seu pai estará ao seu lado na próxima fase da sua vida, ainda mais um pai companheiro, que sempre está ao seu lado... E por tudo isso eu orava, desde muito nova, pra que meu pai estivesse do meu lado quando eu me formasse, quando eu me casasse, que ele conhecesse seus netos - que ele sempre sonhou em ter. Eu rezava todas as noites pra que ele estivesse ali no dia seguinte, e para que me visse crescer, e isso é uma barra. Quando eu terminei com meu noivo achei que ele ia ficar depressivo, afinal ele já fazia planos dos passeios com os netos, mas não, ele queria quebrar a cara dele mesmo... meu pai sempre me surpreendia! E eu dizia que o amava todos os dias, sem tirar nem por, mesmo quando ele estava bravo comigo e se fechava no quarto eu dizia pela fresta, antes de dormir. Talvez por isso neste domingo eu não tenha chorado copiosamente pela casa, como muitas pessoas sem pai que conheço... porque eu disse tudo que eu precisava dizer enquanto ele estava vivo, e ao meu lado.

Meu pai nunca dormiu uma noite sem saber o quanto sua família o amava, e o quanto era importante. Nos melhores e nos piores momentos da minha vida ele esteve ao meu lado, e foi o melhor pai do mundo. Logo, não há pelo que lamentar, exceto talvez ele não poder estar ao meu lado nas minhas novas conquistas e fracassos, mas ele há de estar vendo de onde estiver. É isso, a relação entre pais e filhos não acaba nunca, mesmo que um esteja em cada plano.

E um conselho às minhas amigas que tem filhos e se separaram dos pais deles: preservem esta relação. Por pior que o indivíduo seja como marido/namorado ou o que for, prestem atenção à conduta dele como pai. Não se prendam ao quesito pensão para avaliar a necessidade da presença dos pais na vida dos filhos, pois ela ultrapassa muito tudo isso. Concordo que pais têm responsabilidades quanto ao sustento dos filhos, e devem ter este compromisso, mas ter um pai que nos ama, e que nos apóia não tem preço, e faz de nós pessoas mehores... o que seria da maioria de nós se não fossem nossos pais?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O amor é fogo, e ponto.


As vezes o amor nos prega peças... e essa é uma realidade da qual não dá pra fugir! Já vi amigos que são super apaixonados e românticos caírem nas armadilhas do amor, e outros que se acham muito espertos, os malandros, também se verem caindo na armadilha antes mesmo de se dar conta... rs Hoje mesmo vi mais uma dessas situações e cheguei a conclusão de que o amor é mesmo um fanfarrão!

O grande lance é, o que nos faz amar alguém? O amor é um sentimento complexo, e até esquisito algumas vezes, porque ele parece funcionar em nosso corpo independente da razão, você acaba amando quem quer, quem não quer, quem pode, quem não pode, parece que o bichinho inventa ele mesmo as regras do jogo, e não tem quem possa ir contra.

Dizem que os mais avassaladores são os amores à primeira vista. Aquela pessoa que desde que você vê, pela primeira vez, não deixa mais seus pensamentos. Seja o olhar, o cheiro, a cor do cabelo, parece que fica martelando na cabeça. Entretanto eu conheço muitos casos de amores a primeira vista que só deram certo na segunda, terceira ou vigésima olhadela... rs Na verdade nem todo amor à primeira vista é entendido assim quando acontece, muitas vezes o casal acaba se entendendo muito tempo depois, mas no fundo sempre souberam, desde aquele primeiro dia, que era pra ser... ou não! Tem gente que jura de pés juntos que não dá certo com alguém, e quando todos menos esperam lá estão os dois entregando convites de casamento... rs rs rs

E aí entra também a coisa toda do destino, do fomos feitos um pro outro. Acho que ninguém foi feito pra completar ninguém não, se completa é porque o outro era imperfeito, faltava um pedaço, e isso não é bom, cria dependência. O amor não depende do outro, ele não precisa do outro, ele deseja o outro... e deseja como se não tivesse mais nada nesse mundo!

Talvez metade das dr's fossem evitadas se nós não confundíssemos amor com posse. E aí não tem o bom, nem homens nem mulheres, todos nós temos a tendência de cercar o que é nosso, de não querer dividir, mas isso estraga tudo! Não defendo a historinha do ninguém é de ninguém não, nada disso, mas o coração é livre, e se a pessoa tiver de se apaixonar por outra ela vai mesmo, por mais cuidados que o seu amor tiver... mesmo porque ela pode nem querer também! É assim, um belo dia você está lá conversando com a pessoa e na outra hora, tcharam, nada mais tem graça sem ela!

Há também quem diga que o amor é um jogo, mas essa eu acho que é uma mentirinha muito da sem-vergonha que quem não quer admitir que morre de amores que nem todo mundo diz... E eu não acredito por um motivo muito simples, se fosse um jogo seria o mais sem graça do mundo, porque ninguém sabe ao certo como jogar, e ninguém ganha! Mais hora, menos hora, todo mundo acaba se vendo no beco sem saída de amar alguém e não saber o que fazer com aquilo, tipo uma batata quente que não tem pra quem jogar!

O pior é que não tem como diagnosticar por quem você pode ou não cair de amores. Pode ser aquela pessoa que faz exatamente o seu tipo, ou exatamente seu oposto! Você ama alguém pelo conjunto da obra: a personalidade, o físico, o intelecto, as atitudes, os valores etc. Ou por nada disso... Tudo conta nesse momento, absolutamente tudo, desde o jeito de atender o telefone à forma de passar a mão no cabelo, de beijar, de saber se está tudo bem ou não, por isso os amores de verdade são insubstituíveis. Pode-se encontrar um rosto semelhante, um corpo semelhante, mas aquele "que a mais", aquele jeito de dizer bom dia, aquela mania doida de não comer o último biscoito do pacote, isso é impossível!

E eu acho que se pode amar muitas pessoas ao mesmo tempo, e de formas completamente diferentes. Pode-se até amar de forma romântica mais de uma pessoa, e ao mesmo tempo, e ainda assim cada um de uma forma diferente... Acredito nisso porque o amor é anamórfico, ele depende das partes pra ter um contorno, e se cada amor é um, todos podem coexistir - apesar de que dois amores românticos concomitantes podem bagunçar muito a cabeça de alguém...

Enfim, o x da questão são as peças que o amor nos prega! Porque sempre nos apaixonamos pela pessoa errada, na hora errada, do jeito errado e parece a coisa mais certa do mundo? Aliás, parece errado até vermos a pessoa, quando ela está do nosso lado de repente fica tudo muito certo... rs Por que a gente bate o pé que nunca mais vai se relacionar com alguém assim ou assado e quando vai ver está de novo com alguém do mesmo perfil, quando não é, inclusive, a mesma pessoa?

Essa coisa da mesma pessoa é, provavelmente, a maior das peças que o amor pode nos aplicar... porque foge tão completamente da razão que beira a insanidade.. rs O que nos faz insistir em nos relacionar com alguém de quem já nos separamos, que já não deu certo? Pior que isso, o que nos faz amar alguém que já nos fez chorar, e com o maior amor do mundo, como se as coisas passadas não tivessem mais importância? O que faz com que ignoremos o ditado do "figurinha repetida não completa álbum" e nos esforcemos ao extremo pra conquistar alguém que já foi nosso e mandamos embora, ou nos mandou embora...

* E nesses casos você se sente um pouco estúpido, pois pode estar dando a mesma cabeçada na parede, ou extremamente sortudo, pois pode ter tido uma segunda chance com a melhor pessoa do mundo. Ou você pode sentir as duas coisas, de um em um segundo, alternadamente, praticamente ficando doido, e ligando pros seus amigos uma hora feliz da vida e outra hora perguntando como permitiram que fizesse aquilo de novo... rs *

Acho que tudo isso só se explica pela ausência de explicações lógicas do amor. O amor ama e pronto, ele não pergunta se está certo ou errado, bom ou ruim, se você está de acordo ou não. Parece que as vezes até faz só de pirraça, quando você sabe racionalmente que não dá certo mas o coração bate disparado e você não pensa. Talvez seja essa a explicação do amor que todos procuram mas nunca encontram, o amor é a ausência total de raciocínio...

Com certeza, se houvesse um jeito de processar o amor algum dos meus amigos advogados já teria inventado a cláusula, mas se nem eles escapam de sofrer com o terrorista é melhor nós também nos conformarmos. E vamos tentando aprender com ele, torcendo pra que Drummond estivesse certo, e amar se aprenda amando...