terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dia dos pais


Este fim de semana foi o dia dos pais. Ok, é uma data comercial, apelativa e blablabla, mas não deixa de ser um bom momento pra estarmos com pais, avôs, tios e familiares queridos que nos auxiliaram no contrução de quem somos...

Eu sempre fui uma fiel adepta do dia dos pais, com direito a presente, festinha, surpresa e tudo mais, mas infelizmente este dia dos pais foi o primeiro sem meu pai. Como não tenho mais nenhum avô também o que me restou foi um enorme frozen no América pra passar o tempo!

E o dia dos pais tem toda uma preparação anterior, dias e dias em que a mídia descarrega mensagens emotivas sobre os consumidores, e eu já vim sofrendo por antecedência... nunca tinha percebido como essas datas comemorativas podem ser complicadas para quem não tem com quem comemorar... quando chegou na véspera eu já estava psicologicamente preparada pra passar o domingo todo chorando.

Mas nada disso aconteceu. O meu dia dos pais foi vazio, um dia meio triste, mas foi só isso. De repente percebi que lembrar do meu pai não era algo que me fazia mal. Lembrei de muitos dias dos pais que passei com ele, em muitos lugares, e em tantos presentes... até no último, ano passado, quando ele estava na UTI e eu apareci no hospital com uma televisão portátil, pra ele assistir a novela - meu pai morrreu algumas semanas depois do dia dos pais, numa quarta-feira ensolarada de setembro.

E lembrei também de todas as viagens que fiz com ele mundo afora, de todas as aventuras que embrenhamos e deixavam minha mãe doente, de quando comecei a trabalhar e ele foi um chefe tirano mas me ensinou a dirigir uma escola como ninguém, de quando eu entrei pra faculdade de pedagogia mesmo ele querendo que eu fizesse alguma outra coisa que me fizesse crescer na vida, tipo direito, e de como ele chorou na minha colação de grau, e disse que eu estava certa, e que se eu tivesse escolhido outro caminho a educação não seria a mesma...

Sempre fui a princesinha do meu pai, ele sempre me protegeu do mundo e me ensinou a me defender dele também, e é lógico que vou sempre sentir sua falta, mas esse domingo percebi que isso não é ruim. Ele me colocou no ballet, na aula de línguas, nas lições de piano, e tudo para eu ser a mais delicada e meiga das meninas... e acabou não sendo bem assim, mas eu sei que mesmo eu não tendo sido exatamente como ele imaginava que eu seria ele se orgulhou muito de mim, e até preferiu o resultado de sua cria.

Quando eu nasci meu pai já tinha cinquenta anos, e quando eu tinha seis ele foi internado com um problema grave e ficou entre a vida e a morte. Se recuperou completamente, superando todas as expectativas, mas sempre pairou sobre a minha cabeça o fantasminha do meu pai não estar lá. Outros problemas menores de saúde se seguiram, mas todos foram sendo superados. A idade e a vida que meu pai levou não ajudavam - filho de imigrantes da segunda guerra, construiu seu império do nada trabalhando como louco, numa época em que saúde e prevenção não eram o top 5. Com dezenove anos ele foi internado às pressas com um AVC, que acabou não tendo sequelas, mas meu primeiro "passeio" dirigindo com carta de motorista foi pro Hospital Samaritano, correndo, pra ver meu pai e o que tinha acontecido... aliás, nesses últimos anos me tornei praticamente hour concours do Samaritano, sou voluntária de lá inclusive, porque aprendi a gostar de um hospital, afinal era lá que as coisas acabavam ficando bem. Só por ai dá pra entender quantas foram as idas e vindas da minha família a hospitais, médicos e clínicas, mas meu pai sempre teve uma vontade tão grande de viver que parecia que nenhuma enfermidade ou idade o venceria... até que chegou sua hora.

Não é fácil crescer sem saber se seu pai estará ao seu lado na próxima fase da sua vida, ainda mais um pai companheiro, que sempre está ao seu lado... E por tudo isso eu orava, desde muito nova, pra que meu pai estivesse do meu lado quando eu me formasse, quando eu me casasse, que ele conhecesse seus netos - que ele sempre sonhou em ter. Eu rezava todas as noites pra que ele estivesse ali no dia seguinte, e para que me visse crescer, e isso é uma barra. Quando eu terminei com meu noivo achei que ele ia ficar depressivo, afinal ele já fazia planos dos passeios com os netos, mas não, ele queria quebrar a cara dele mesmo... meu pai sempre me surpreendia! E eu dizia que o amava todos os dias, sem tirar nem por, mesmo quando ele estava bravo comigo e se fechava no quarto eu dizia pela fresta, antes de dormir. Talvez por isso neste domingo eu não tenha chorado copiosamente pela casa, como muitas pessoas sem pai que conheço... porque eu disse tudo que eu precisava dizer enquanto ele estava vivo, e ao meu lado.

Meu pai nunca dormiu uma noite sem saber o quanto sua família o amava, e o quanto era importante. Nos melhores e nos piores momentos da minha vida ele esteve ao meu lado, e foi o melhor pai do mundo. Logo, não há pelo que lamentar, exceto talvez ele não poder estar ao meu lado nas minhas novas conquistas e fracassos, mas ele há de estar vendo de onde estiver. É isso, a relação entre pais e filhos não acaba nunca, mesmo que um esteja em cada plano.

E um conselho às minhas amigas que tem filhos e se separaram dos pais deles: preservem esta relação. Por pior que o indivíduo seja como marido/namorado ou o que for, prestem atenção à conduta dele como pai. Não se prendam ao quesito pensão para avaliar a necessidade da presença dos pais na vida dos filhos, pois ela ultrapassa muito tudo isso. Concordo que pais têm responsabilidades quanto ao sustento dos filhos, e devem ter este compromisso, mas ter um pai que nos ama, e que nos apóia não tem preço, e faz de nós pessoas mehores... o que seria da maioria de nós se não fossem nossos pais?

2 comentários:

  1. DEMAIS!!!! PARABÉNS DE NOVO, GATONA!!!
    bjs e sucesso sempre!

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  2. Oi, Ale! Só lendo este post eu me dei conta de como faz tempo que não nos falamos. Eu sinto muito pelo seu pai. Nunca vou me esquecer da sua festa de quinze anos, em que o coração dele não cabia no peito de tanta emoção. Eu também não tenho mais pai, isso já passa dos nove anos, mas as boas lembranças sempre ficam. Estou morrendo de saudades de vc, parabéns pelo blog. Um grande beijo - Lu

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