domingo, 28 de agosto de 2011

Concurso para repórter

Acabei de ter a satisfação (não encontro outra palavra) de assistir ao reality show “A Casa da Ana Hickmann” e, sinceramente, preciso externar minha opinião: estão ‘tirando um sarro’ com a cara das jornalistas!

O que é, supostamente, “uma competição séria e respeitosa que busca uma nova repórter para o programa da Ana”, não passa de um grande desrespeito com a profissão de jornalista, que desempenha, na maioria dos casos, a profissão de repórter.

Eu já fui repórter, e tenho grandes amigas que também o foram ou ainda o são. E exercem com grande talento a profissão nos mais diferentes segmentos, desde economia até moda e mercado de luxo. E a maioria de nós já teve que passar por situações desagradáveis com pessoas que não respeitavam nossa profissão, que pensavam poder nos tratar de forma deselegante ou nos cantar abertamente, como se não estivéssemos ali a trabalho, como jornalistas.

Entendo que, em determinadas situações, como programas de humor e afins, profissão de repórter é estereotipada, assim como todas as outras profissões, e não se considera isso desrespeito, porque se trata de humor. Agora, uma mulher bem-sucedida e inteligente como a Ana lançar um concurso de repórter, com o discurso de sério e busca de novos talentos, em que as provas são desfilar de biquíni e posar pra fotos sensuais de lingerie é um pouco controverso.

Digo controverso porque ela mesmo, a própria Ana, demorou um bom tempo até que o Brasil a reconhecesse como empresária e comunicadora.

Colegas jornalistas, vos pergunto: será que faltamos a todas as aulas de passarela na faculdade, ou será que nossa grade curricular era deficitária, por isso não aprendemos a desfilar de roupa íntima???

Aliás, pra que faculdade, sabendo pular de grandes alturas, comer com os talheres corretos e, principalmente, não fazendo as janelas de varal?

Eu tenho grande respeito pela profissão de modelo, e uma das minhas melhores amigas é modelo internacional, de quem me orgulho muito. Mas essa não é minha profissão, e assim como não estudei ou me aprimorei para fazer caras e bocas num ensaio sensual, elas também não estudaram e nem trabalharam para uma boa edição ou redação de um texto e/ou matéria.

Existem talentos individuais que podem, sim, se destacar nas duas áreas, porém não é através de “book” que se escolhem as repórteres dos cadernos da Folha de São Paulo e do Estadão, sejam eles quais forem. E espero que assim continue, porque num país como o Brasil, onde a cultura e a educação ainda precisam lutar tanto pra se destacar, seria triste uma inversão de valores desta medida.

Digamos que, como entretenimento, a tal casa é bem planejada e editada, mas como uma espécie de seleção para repórter chega a ser ultrajante. Vocês imaginam a Fátima Bernardes desfilando de biquíni? Ou a Neide Duarte fazendo fotos de lingerie para fazer parte de uma equipe? Ou até a própria Chris Flores, ex-companheira de apresentação da Ana, rebolando na tv pra mostrar os detalhes do sutiã e da calcinha estilo romântico?

Que nossas jornalistas continuem lindas e corajosas, como sempre foram, e que tenham a capacidade de apurar fatos como grandes profissionais. Um grande aplauso ao repórter destemido! Mas que situações como essa, que trazem à tona velhas discussões como o “teste do sofá” para repórteres femininas de grandes emissoras, e a falta de necessidade de talento e formação para repórteres que tenham uma boa aparência, sejam reconhecidas apenas como entretenimento e não como uma busca por novos talentos.

Porque, sinceramente, a maioria das repórteres bonitas e competentes que se vê por aí não precisaram de nada além de inteligência e talento para comunicação para demonstrar ao mundo seu valor. Elas não dançaram na beira da piscina com “homens sarados” e podem não ficar tão bem com cílios postiços, mas o que elas dizem e o trabalho que desenvolvem faz com que sejam algumas das mulheres mais respeitadas e elogiadas do Brasil.