quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tempo perdido


Uma música do Legião Urbana ficou muito famosa, e dizia, entre tantas coisas, que "nem foi tempo perdido... somos tão jovens..." Essa música e tantas outras da geração pop rock embalaram grande parte da minha adolescência. A idéia de que nada era tempo perdido reinou nos finais da década de noventa, e ao que me parece continua imperando, principalmente dos doze aos dezoito anos.

Por ser uma fase de descobertas eu acho perfeitamente aceitável que aqueles que estão tentando entender as regras do jogo da vida adulta acreditem que tudo é válido, que nada é tempo perdido, mesmo porque todas as experiências pelas quais passamos é que nos tornam o que somos no fim da história. Acontece que chega a hora em que o tempo passa a ser mais valioso, e menos passível de desperdício. Chega a hora em que precisamos encarar o tempo perdido como algo a ser evitado.

Hoje, um pouco menos entusiasta pelo novo e um pouco mais apaixonada pela vida eu percebo que o tempo mais perdido é aquele consciente, que desperdiçamos de forma tola em momentos que sabemos que não nos acrescentarão nada, como desentendimentos com aqueles que amamos e atividades que não concordamos em realizar por nossos princípios.

No fundo a raiz de todo o tempo perdido é o fato dele ser inutilizado para aprendermos algo. Quando se desiste de aprender, de se aprimorar, das novas experiências, desiste-se automaticamente de viver. E certas situações só resultam em dor, rancor, mágoa e outros sentimentos e sensações que não acrescentam nada ao nosso ser. Evitar tempo perdido depende diretamente de ter discernimento para avaliar quando a continuidade em determinada situação ou circunstância deixou de trazer qualquer benefício.

Me entristece profundamente perceber que algumas pessoas não ultrapassam a fase das descobertas, e continuam se dando ao luxo de perder tempo com bobagens: brigas sem finalidade, relacionamentos que não se baseiam em cumplicidade e amor, trabalhos que vão contra sua verdade moral, ciúme possessivo julgando que se pode ser dono de outro, falta de fé no poder de cada um de mudar o mundo - nem que seja mudando um alfinete de lugar.

Há aqueles que com vinte, trinta, sessenta anos, parecem ainda não ter percebido como o tempo que temos pra viver é curto. E não importa se alguém vive quarenta ou cem anos, o tempo sempre será curto se levarmos em consideração a infinidade de maravilhas que temos para compreender e absorver durante a vida. É infinitamente perfeito acordar todos os dias e abrir os olhos para vinte e quatro horas de aventuras que se apresentarão! Então por que perder um segundo sequer fazendo o macarrão com azeite se você prefere o gosto da manteiga?

Vou mais adiante, por que perder um minuto de minha vida brigando com a pessoa que amo porque ele não coloca o açucareiro na prateleira correta, por que tirar o brilho deste dia fantástico ao constatar que meu trabalho não me realiza e não faço nada para mudar esta situação, por que desperdiçar três horas de beijos e carinhos por conta de ciúme de um ex-namorado qualquer que mandou um e-mail engraçadinho?

E ninguém merece vingança, seja lá o que for que lhe tenha feito, porque a vida se encarrega disto, lembrando aqueles que agem com maldade de que estão cada vez mais longe da felicidade. Não vale a pena perder seu tempo com a idéia de que se pode ensinar lições a pessoas que não querem aprender, a vida é curta para isso, limitemo-nos a ensinar aqueles que percebem o real valor de sentir seu coração batendo cada hora em um compasso. Sempre haverão aqueles que não vão entender, ou que vão tentar perturbar a felicidade alheia, mas a força destes é a atenção que lhes é dada: sem a risada do público o palhaço perde o emprego, simples assim!

Ninguém é perfeito, e a felicidade é o caminho, não o fim dele, como já se diz há tanto tempo... ser feliz demanda aprender a viver, e não tentar encontrar a resposta mágica em uma fórmula, em um montante de dinheiro acumulado, em uma estrutura de família idealizada. A felicidade de cada um tem uma forma distinta, tem um gosto distinto, e só aquele que a alcança há de saber o que ela significa. Não se pode desperdiçar o tempo buscando a felicidade, porque nesse sentido qualquer esforço será inútil. É bem mais razoável viver a plenitude da felicidade no dia-a-dia, nos pequenos e grandes momentos, em cada abraço, em cada pôr-do-sol.

Existem pessoas que estão simplesmente vivas, esperando a vida passar, e outras que estão felizes em viver, aguardando ansiosamente por um novo dia. Cabe a cada um de nós escolher viver a vida como espectador ou como explorador de seus mistérios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário