sexta-feira, 8 de abril de 2011

Frankenstein Made in Brazil

Esta semana o Brasil ganhou a atenção do mundo por conta da violência, de novo. E dessa vez a situação foi mais grave que o usual, se é que existe algum tipo de violência que possa se tornar usual: "Psicopata invade escola no Rio de Janeiro e dispara 66 tiros contra estudantes". Todo o mundo viu. Todo o mundo ficou horrorizado...

A ocorrência é de uma matemática voluptuosa: 1 psicopata, 89 projéteis, 2 armas, 66 crianças baleadas, 12 mortos. Mas essa equação tem mais outros números que não estão sendo levados em conta, como cerca de 500 anos de educação que 'deseduca' no país do carnaval.

Se o assassino era um psicopata? Sem sombra de dúvida! E um psicopata 100% Made in Brazil, com louvor. Um jovem que tirou a vida de tantos outros e a sua própria numa ação suicida, em busca de vingança contra o que sofreu em sua adolescência. Aliás, há de se pensar há quanto tempo ele já tinha desistido de viver...

Tudo nessa vida tem motivo, fato. Pode ser um motivo estapafúrdio, enlouquecido ou perfeitamente plausível, mas todo ato tem uma força motivadora. É muito fácil tapar o sol com a peneira e dizer que o tal matador é só mais um psicopata que pirou, mas a realidade é que ele é mais um produto de um sistema educacional cheio de vícios e problemas, de uma escola pública que amedronta os alunos, de um espaço de educação onde os educandos não tem seus direitos respeitados pelos colegas e não são protegidos pelas autoridades. Os ex-colegas descreveram como foi a vida acadêmica do rapaz naquela escola, repleta de agressões, apelidos, pequenas maldades - até dentro do lixo dizem que ele foi jogado na escola. De forma alguma isso justifica a barbárie que ele cometeu, mas explica um pouco de seus motivos. Bem vindos ao Brasil!

Não estou generalizando, existem colégios públicos que são modelo de organização, e professores que encaram a profissão com grande respeito, mas não são a maioria, infelizmente. E tem colégio particular na mesma situação! Agora, convenhamos, é muito mais fácil entrar numa escola armado do que em um banco, e a primeira cuida de crianças, enquanto o segundo cuida de moeda. Aonde está o nosso verdadeiro tesouro?

Temos de considerar também o aspecto psicológico das ocorrências. O tipo de agressão social sofrida pelo assassino, bullying que o levou a um ódio gigantesco pela instituição que deveria amar, afinal estudou lá, e a sequela dificílima de lidar que ele causou em aproximadas 1000 crianças e adolescentes, que presenciaram a tarde de terror, e provavelmente não vão querer voltar tão cedo à escola.

O bullying acontece ai, todo dia, dentro e fora das salas de aula, mas muitos professores e diretores fingem não ver - quando não incentivam até as brincadeiras. O grande problema é que agressão moral não é brincadeira, é crime! A lei já existe, apesar de não ter sido fácil ela está ai, aprovada, mas no dia-a-dia continua acontecendo: gordinho, girafa, careta, nerd, retardado, quatro olhos... a lista é comprida e desagradável, mas de conhecimento geral. Tem quem diga que essas "brincadeiras" sempre existiram e antigamente isso não acontecia, mas antigamente também não se compravam armas pela internet! A agressão sempre existiu, e como em todos os outros aspectos da vida, o ser humano aprimorou suas formas de retaliação.

Precisamos cuidar melhor do nosso futuro, essa é a grande realidade. Não adianta investir na infra da Copa se a educação continuar bagunçada e sem gerência! E precisamos aprender a viver com as diferenças: Deus fez cada um de um jeito especial, único, e é esse o encantamento da vida, ser diferente! É hora de dar um basta na homogeneidade proposta pelo sistema atual e cair na real, cada um é de um jeito e isso é sensacional.

É óbvio que não é porque existe preconceito entre jovens que todos se tornarão psicopatas, mas a nossa sociedade precisa ficar alerta a um conjunto de fatores que vem dando origem à fábrica de monstrinhos brazucas. Escola é lugar de aprender lições e convivência, e deveria ser o segundo lar de qualquer aluno, imprensa não devia conter 80% de tragédias, pois também precisamos dos bons exemplos, venda de armas devia ser melhor controlada, pois vivemos tempos de caos, e as pessoas estão cada vez mais tensas. Agora, principalmente, deveríamos olhar mais por nossas crianças, é nelas que está nossa esperança de vida!

Isso não é trabalho só pro governo não, isso é missão coletiva. Hipocrisia dizer que o governo não está nem aí se você também não faz sua parte, e incentiva preconceitos, violência e intolerância à sua volta. A sociedade é um organismo, e qualquer movimento, por menor que seja, faz diferença no balanço final.

A matéria entrou no caderno Cotidiano da Folha, o que relata a triste situação atual do Brasil: aqui, esse absurdo é assunto de todo dia.


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